domingo, 10 de fevereiro de 2008

Cynthia McKinney, a novidade da eleição estadunidense

A mídia quer nos fazer crer que a eleição presidencial nos EUA se resume a escolher entre Clinton e Obama pelos Democratas ou algum Republicano. A novidade seria a “possibilidade” de uma candidata mulher ou um candidato negro.

A verdadeira novidade nessas eleições é a candidatura presidencial de uma mulher negra com compromisso com os trabalhadores e pobres, a ex-deputada pelo Estado da Geórgia, Cynthia McKinney, que se apresenta pela coalizão “Power to the People”, “Poder Para O Povo”, propondo-se a formar um novo Partido da Reconstrução.

Assim, ela está de fato abrindo uma brecha no sistema chamado dos “republicratas” - o bipartidarismo de fachada que une Democratas e Republicanos em torno dos interesses do “establishment”, o imperialismo – sistema que bloqueia a expressão independente dos trabalhadores e da maioria oprimida, negros, latinos e mulheres.

Cynthia está disputando a legenda do Green Party, o Partido Verde estadunidense, para registrar a sua candidatura presidencial, mas a sua campanha é acintosamente boicotada pela imprensa desde os próprios EUA, como explica o jornalista Múmia Abu-Jamal, o prisioneiro negro mais conhecido no país (injustamente encarcerado no “corredor da morte” onde aguarda um pedido de novo processo), que esta semana denunciou o “silêncio” e anunciou seu apoio à candidatura de Cynthia.

De fato, sua candidatura representa um raio de esperança para todos os oprimidos nos EUA e no mundo. Sem precisarmos concordar com todos pontos de vista desta militante negra, é indiscutível o que ela representa nos EUA. Deputada à época pelo Partido Democrata, no parlamento procurando ser a voz dos negros e oprimidos, teve a coragem de se opor a Guerra do Iraque quando ela fazia a “unanimidade” dos Democratas e Republicanos, inclusive Clinton e Obama. Foi depois “recompensada” pela oligarquia que controla os Democratas, que sabotou e impediu sua reeleição: resultado, hoje é uma personalidade nacionalmente respeitada na comunidade negra e além.

Perguntada sobre Barak Obama, ela lembra que na política externa “o principal conselheiro de Obama é Zbigniew Brzezinski” que já serviu a outros presidentes, “se orgulha de ter sido quem criou de conjunto o movimento do Jihad (guerra santa) afegão e o movimento que gerou Osama Bin Laden”, e ainda há pouco insistia em entrevista que “valeu à pena, porque nós queríamos terminar com os Soviéticos”. Que mudança, então, Obama pode representar?

A um editorialista que comentou que a ascensão de Obama significava que “a raça de agora em diante não é mais um critério na política americana”, ela retrucou: “Vá dizer isso aos negros que vivem em Nova Orleans e sofrem as conseqüências do furacão Katrina! Ou que enfrentam o furacão América nas cidades e comunidades em todo o país...”.

Em setembro do ano passado, Cynthia McKinney se engajou como co-presidenta na organização do Tribunal Internacional Sobre o Furacão Katrina, que concluiu pela condenação dos governos federal, Republicano, e estadual e municipal, Democratas, como “responsáveis por crime contra a humanidade”, por terem engendrado um verdadeiro genocídio contra os negros da região da Costa do Golfo, Luisiana e Mississipi. O Tribunal conclui com exigências dirigidas ao Congresso e ao Presidente Bush, como “apoio ao direito ao retorno” dos sobreviventes dispersos pelos EUA, “reparações pelas perdas” e “projeto público federal massivo de recuperação”.

Depois do Tribunal, Cynthia declarou que, para satisfazer essas e outras reivindicações dos negros e dos trabalhadores nos EUA, é preciso um programa e uma agenda por uma verdadeira mudança: “Isso não veio de nenhum dos dois grandes partidos políticos (nem Democratas nem Republicanos). A satisfação das reivindicações feitas pede então uma outra coisa: a formação de um Partido da Reconstrução”.

Na semana passada, foi lançado um “Comitê Internacional de Apoio à Campanha Presidencial Power To The People de Cynthia McKinney e à formação de um Partido da Reconstrução nos EUA”, na forma de uma campanha de adesões.

Não apenas os negros da Diáspora africana, mas os trabalhadores e os oprimidos, e todos defensores do direito à autodeterminação dos povos devem ter o maior interesse na campanha de Cynthia. No Brasil também, onde a questão negra tem a importância que tem, e onde o problema da expressão autônoma e própria dos oprimidos no terreno eleitoral está também colocado, vamos divulgar esta candidatura.

Markus Sokol é membro do Diretório Nacional do PT e dirigente da corrente interna O Trabalho

Artigo publicado originalmente no blog glauberpiva.blogspot.com.

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